sábado, 8 de agosto de 2009

A diferença entre uma mentira e uma verdade não dita

Desde que meu Rei nasceu, eu e maridón combinamos em não mentir pra ele. Pelo menos, evitar. Não tem sido fácil. Diante dos ataques de nervos, dos choros sem-ter-nem-pra-quê e da adaptação à escola, substituímos a mentira pela omissão. Explico: quando ele pergunta para onde estamos indo, mesmo sabendo que é para escola, eu respondo com um "ali, pertinho", ou mudo o foco da atenção dele e não respondo. Sei que o ideal seria falar a verdade, mas sei também que - em se tratando do meu pequeno - uma verdade ali viria acompanhada de um choro alto, dele se jogar para trás, bater a cabeça em qualquer lugar e afins. Então, prefiro só dizer que estamos indo "ali", até porque ele pergunta já sabendo a resposta.

Mas já fui mais radical nessa combinação em falar a verdade. Em momentos de difícil entendimento com o Rei, como trocar uma fralda, conduzi-lo espontaneamente ao banho, tirar do banho, dar remédio, levar ao médico ou coisa assim, o papai, sempre mais paciente com o pequeno que eu, optava por contornar as situações com brincadeiras, contando historinhas ou dando mais tempo ao Rei para digerir o caso. Eu não. Ia fazendo, forçadamente, falando a verdade quando ele perguntava o que eu ia ou estava fazendo. Até que o papai foi, aos poucos, me conscientizando de que essa não era a melhor maneira de lidar com o nosso pequeno. E que, a nossa combinação em falar sempre a verdade não era uma "Palavra de Rei", podendo e - devendo - ser mais flexível.

Hoje sou uma pessoa/mãe mais relaxada. Às vezes ainda me canso de tentar contornar as birras do meu guri e o papai, quando percebe que estou chegando no meu limite, assume o comando. Quando o contrário acontece, e o papai perde a paciência, assumo eu. E assim vamos criando esse serzinho numa verdade disfarçada de amor, paciência e dedicação.

...
Uma cena para explicar a postagem:

Já passava das dez da noite e ainda estávamos na casa da tia, minha cunhada. Nada que disséssemos fazia com que o Rei quisesse vir para casa sem espernear. Então, já cansado, o papai sugeriu:
- Vamos ver o parque!

É claro que ele veio correndo, mas perguntando se a tia viria junto. Ainda chorou um pouquinho, depois se conformou quando lembrava do parque. Veio o caminho inteiro falando "nós vamos para o parque nô é, mamãezinha". E eu, sem querer mentir, respondia "vamos ver se o parque ainda está aberto". E ele perguntava novamente, e eu respondia novamente. Parei de contar quando chegou em mil vezes de perguntas e respostas.

Como o pequeno conhece o caminho de casa, num determinado local ele disse "aqui nô é o parque, mamãezinha". Eu respondi que o parque já estava fechado. Ele argumentou, já aos prantos:
- Mas voxê disse, mamãezinha. Voxê disse!

O papai fez a volta e ficamos rodando por caminhos diferentes. Cansada, falei:

- Olha para o céu, filho. Ele está escuro, preto, não está? Quando o sol nascer e o céu ficar claro, num azul bem clarinho, eu levo você no parque.

Parece que surtiu efeito e ele parou de reclamar. Paramos em casa, nenhum choro. Entramos, sem choro ainda. No outro dia, quando estava voltando com ele da escola, ele olhou para cima, procurando uma pipa. De repente falou, em total euforia:

- Cadê a pipa, mamãezinha? Olhaaaaaaaa o céu, já tá "caro", vamos para o parque mamãezinha! Vamos para o parque!

Pensei, cá comigo: e agora? Como vou explicar pra ele que só vamos ao parque quando o céu ficar escuro. Porque aqui, é só de noitinha que o parque começa a funcionar.

Viu no que dá subestimar a inteligência do próprio filho???

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