Se Eu Fosse Você!

A história começou por causa da minha aliança. Sempre que preciso lembrar de algo, ao invés de fazer um X na mão, eu tiro a aliança da mão esquerda e coloco na direita. Ontem, enquanto eu usava o computador, Arthur perguntou:

- Não tem anel, mamãe?

Não entendi direito a frase, porque ele estava de chupeta e perguntei o que ele estava falando. Ele disse:

- Cadê seu dedo, mamãe?

Mostrei a mão esquerda, enquanto digitava com a direita. Ele repetiu:

- Cadê os outros dedos, mamãe? Não tem anel.

Entendi que ele percebeu a marca no meu dedo da aliança e sentiu falta dela. Então, mostrei as duas mãos juntas e mostrei 'o anel' para ele. Ele pediu, eu tirei e dei. Então ele falou:

- Posso colocar no dedo, mamãe?

Falei que sim. E ele completou:

- Agora, eu sou a mamãe!

Aproveitei a brincadeira e pedi um abraço, dizendo que eu era a filhinha. Ele corrigiu:

- Não, eu sou a mamãe e voxê é Arthur!

Era só o que eu queria. Comecei a imitá-lo. Pedi leitinho, disse que não queria ir para a escola e bati a cabeça no sofá, como ele faz. O papai entrou na brincadeira e ficou ajudando o pequeno com a formulação das frases, para usar comigo, o filho.

De repente ele perguntou:

- Voxê quer pepeta? Vou bucá!

E deu uma voltinha pela sala, vindo sem a chupeta, dizendo:

- Não encôntei ela.

Comecei a imitar o choro dele. Então o papai sugeriu que ele contasse uma historinha para que eu parasse de chorar. E o guri, apontando para um livrinho no chão:

- Tchan, tchan, tchan, tchaaaannnnnnn! Eu achei o livro!

E desandou a contar a história: "Era uma bêiz..." Quando percebeu que se tratava da história da Cinderela, que ele gosta muito, desistiu da brincadeira:

- Mamãe, conta uma história pra mim. Voxê é a mamãe agora! Eu sou Arthur.

Conveniência, né filho?