sábado, 19 de setembro de 2009

Irmão






Ele é 5 anos mais novo que eu. Hoje não é muita diferença, mas já foi, quando eu tinha 8 anos e ele 3. É o caçula. Eu a mais velha. Entre nós, a titia Vanessa. Ele tinha o cabelo muito liso e minha mãe sempre mandava cortar redondo, o que lhe rendeu o apelido de Cuia. Da cabeça, não vou nem falar, viu! Sempre foi companheiro. Nunca foi daqueles meninos que vigiam a irmã, que deduram para os pais depois. Sempre guardou segredo e nunca me importunou em qualquer fase da minha vida. Lembro de uma vez em que eu estava arrumando meu quarto, limpando o chão, e ele ficou desfilando para lá e para cá. Peguei o pano molhado e bati nele. Doeu mais em mim, pode ter certeza. Ele chorou, sentado no sofá. Fui lá, adulei um pouco, meio orgulhosa, sem querer pedir desculpas, mas fui. Jurei nunca mais bater nele. E cumpri.

Outra vez, não lembro quantos anos a gente tinha, mas ele, com raiva, jogou meu ursinho preferido na lama. Não bati nele, só contei para o meu pai que foi lá e deu duas palmadas nas mãos dele. Fiquei com pena e tentei amenizar, dizendo para o meu pai que ele tinha feito sem querer. Apanhei também (duas palmadas nas mãos), mas me senti aliviada por repartir com ele aquele momento de dor. Com certeza ele não lembra de nenhum desses momentos, mas eu sou mais velha e tenho obrigação de lembrar.

De lá pra cá, nos tornamos companheiros. Os anos passavam e ele não crescia, por isso até os 13 anos, ele dizia que tinha 10. Demorou a despertar o interesse pra namorar. Até uns 15, 16 anos a diversão dele era pescar e caçar passarinho. Depois dessa fase, quando começou a namorar, acumulava uma namorada em cada bairro da pequena cidade em que morávamos. Ele era um menino muito organizado e cuidadoso. Até demais, eu diria. Chegava a ser pão-duro. Às vezes, eu e minha irmã davamos uma enrolada nele, trocando duas notas de valor inferior por uma de valor maior, que ele fazia só por causa da quantidade de notas de dinheiro. Todos os seus brinquedos eram zelados, ele mal usava-os. Mas ele tinha 4 brinquedos que eu adorava de paixão: três caminhõezinhos de ferro (uma caçamba, um guidaste e uma betoneira) e um fusca branco, grande, que tinha sido do meu tio Lindomar. Às vezes, quando ele estava numa veia boa, me emprestava os 3 carrinhos pequenos para que eu enfeitasse a prateleira do meu quarto. Depois, por qualquer briguinha ou chantagem, ele tomava os carrinhos de volta. Até hoje, somos os dois loucos por Fórmula 1.

Ele cresceu. Literalmente. Hoje é o mais alto da família inteira. E ele criou asas também. Com 18 anos foi morar em outra cidade para estudar, trabalhar e ampliar os horizontes. Nunca mais voltou. Só à passeio, mas não conta. A gente nunca mais teve aquele guri de volta. Os interesses dele mudaram, o círculo de amigos também. Então, suas passagens por aqui são sempre rápidas e ele passa mais tempo na rua do que em casa. Mas o bom disso tudo é que o nosso amor não mudou. Somos companheiros ainda, mesmo não estando presente um ao lado do outro. O msn, o celular e o e-mail nos mantém unidos. Quando ele não vem, estamos lá, na casa dele. É, ele casou também. Ainda não tem filhos, mas tem casa, mulher, carro, moto, emprego, está cursando faculdade. Meu menino cresceu! E fico lembrando das vezes que eu tinha que ficar com ele na escolinha porque ele chorava muito, não queria ficar lá. Ele chorara para um lado, eu para outro. Até que ele acostumou e ficou.

Às vezes sinto uma saudade enorme. Uma vontade de que ele morasse aqui, bem pertinho de nós. Sinto pelo meu filho que não pode conviver com ele, diariamente. Que não pode viver perto de um tio que é louco por futebol e por fórmula 1 (coisa que o maridón não é) para incentivá-lo a gostar também, para jogar bola com ele e ensinar a correr de kart. A vida é cruel às vezes. As oportundidades não estão onde a gente quer e, por isso, temos que correr atrás dela. Ele fez isso. Meu maninho é um guerreiro. E eu me orgulho muito do meu menino!

Hoje não é aniversário dele, nem nada. Só me deu vontade de escrever isso depois que cheguei na casa da minha mãe e ela me disse que encontrou dois, dos três caminhõezinhos dele, numa caixa onde ele juntou e guardou as coisas das quais ele não conseguia se desfazer, antes de ir embora, cinco anos atrás. Uma caixa com quatro mini-carrinhos de fórmula 1, várias bolas de gudes, figurinhas dos jogadores da seleção brasileira de 1994, um ioiô da coca-cola, um mini-baralho e um mini-dominó, uma fita de Atari (alguém sabe o que é isso?), um bonequinho do Comandos em Ação, uma medalha, umas moedas antigas (acho que ele esqueceu de gastar), uma coleção de chaveiros, duas caixinhas de músicas, dezenas de Tazzo da Elma Chips, duas carteiras e cartas, muitas cartas (eu li todas, hehehehe). (todas essa catrevagens das fotos aí de cima, mas que fazem um bem danado).

Maninho, quero dizer que a gente te ama demais e sente muita saudades, apesar dos recursos tecnológicos que nos une. Em novembro, estamos chegando aí, se Deus quiser, pra bagunçar sua casa novamente. Quanto à caixinha, vou levá-la pra você. Claro, sem os dois caminhõezinhos que já ganharam um novo dono, hiper, super feliz com os brinquedos "novos". Depois que o Rei nasceu, fiquei pensando em como seria bom se você tivesse guardado algum brinquedo daquela época para dar a ele. Como o fusca, você deu para Renato, filho de Tio Lindomar, nada mais justo que os caminhõezinhos fiquem com o Rei. Um dia, com certeza, os darei para o seu filho.

Beijão.
(Titia, não fica com ciúmes. Não falei muito de você, porque era exclusivo para nosso irmão. Tenho certeza que os meus sentimentos são iguais aos seus, por ele). A gente se ama, né?

3 comentários:

Vany Piher disse...

A gente se ama demais!!!!
Pena ter descoberto a intensidade desse amor que sempre existiu, depois que crescemos!!!

Espero que Deus nos permita sempre... união, amor, saúde, paz, serenidade e companheirismo...

Nos amamos sim...

Ranni Piher disse...

Val, amo todos. tbm.
da lapada com o pano eu não lembro não mas do tal do urso eu lembro, era um tal de Peposo que chupava o dedo nera? rsrsrs

Sua doida, vc leu todas as cartas mesmo? rsrs

junta as cartas e traga em novmbro.
e diga pra tutu que os carrinhos foram presentes do tio dele.
Presnte meio forçado mas que não negaria jamais pra ele. kkkk

bjos e amo vcs

Danileide disse...

A gente se ama mesmo, né?
Tanto que que daqui fico lendo e chorando feito uma boba.
Posso amar vocês também,certo?
Beijinhos***